O que realmente aconteceu com a Biblioteca de Alexandria?

Durante séculos, a Biblioteca de Alexandria foi envolta em mistérios, teorias e lendas. Considerada o maior centro de conhecimento do mundo antigo, sua destruição levanta debates até os dias atuais. Mas o que de fato aconteceu com esse tesouro intelectual da antiguidade? Neste artigo, você vai mergulhar em sua origem, auge, declínio e nas controvérsias que ainda hoje provocam discussões entre estudiosos e curiosos da história.

O nascimento de um ideal: Alexandria como farol do saber

Alexandria, fundada por Alexandre, o Grande, em 331 a.C., rapidamente se tornou um dos centros mais vibrantes da cultura helenística. Com localização estratégica no Egito, a cidade atraiu filósofos, cientistas, poetas e pensadores de várias partes do mundo.

A Biblioteca de Alexandria foi idealizada não apenas como um acervo de obras, mas como um símbolo da ambição humana de reunir todo o conhecimento do mundo em um só lugar. Estima-se que ela abrigava entre 400 mil a 700 mil pergaminhos — muitos dos quais não existiam em nenhum outro local.

Quem construiu a Biblioteca?

O projeto da biblioteca é geralmente atribuído a Ptolemeu I Sóter, general de Alexandre, e seu filho, Ptolemeu II Filadelfo, que continuou a expansão da obra. Eles queriam transformar Alexandria em uma nova Atenas. Para isso, fundaram o Mouseion, um complexo de pesquisa científica e filosófica, do qual a biblioteca era parte essencial.

Entre os estudiosos ilustres que passaram por lá estavam Euclides, Eratóstenes, Arquimedes e Hiparco.

Como a Biblioteca acumulava tanto conhecimento?

Os métodos de aquisição eram, no mínimo, ousados. Embarcações que atracavam no porto de Alexandria tinham suas obras confiscadas temporariamente. As cópias eram feitas pelos escribas, e os originais ficavam para a biblioteca — uma estratégia agressiva, mas eficaz.

Obras vindas da Grécia, Índia, Pérsia, Egito, e Mesopotâmia preenchiam as estantes, muitas vezes em versões traduzidas para o grego. Esse acervo servia não apenas para pesquisa, mas como uma ponte entre culturas distintas.

As várias teorias sobre a destruição da Biblioteca

Apesar de toda sua glória, a Biblioteca de Alexandria desapareceu. Mas o mais curioso: não há um único evento que explique sua destruição. Em vez disso, há uma série de acontecimentos que, somados, podem ter sido responsáveis por sua perda total. Vamos examinar esses marcos históricos.

1. O incêndio provocado por Júlio César (48 a.C.)

Durante uma guerra civil no Egito, Júlio César travou combates contra as forças da rainha Cleópatra e seu irmão Ptolemeu XIII. Para proteger sua frota, César ordenou que o porto fosse incendiado. O fogo se alastrou pela cidade e, segundo registros de historiadores como Plutarco, parte do acervo da biblioteca pode ter sido consumida pelas chamas.

No entanto, há controvérsias. Alguns autores sugerem que apenas um depósito anexo foi queimado, e não a biblioteca principal.

2. A decadência sob o domínio romano

Após a anexação do Egito pelo Império Romano, o financiamento e apoio intelectual à biblioteca começaram a enfraquecer. Muitos estudiosos foram expulsos ou mortos, e o cuidado com o acervo foi negligenciado.

3. O ataque do imperador Aureliano (século III)

Durante a reconquista de Alexandria, o imperador romano Aureliano enfrentou resistência da cidade, o que levou a intensos combates. Registros indicam que parte significativa do distrito de Bruchion — onde se localizava o Mouseion — foi destruída. Isso teria afetado diretamente a estrutura da biblioteca.

4. A destruição do Serapeu (391 d.C.)

Com o avanço do Cristianismo e a intolerância religiosa que se seguiu, o templo de Serápis, onde funcionava uma das bibliotecas secundárias (ou parte da biblioteca principal após mudanças), foi atacado e destruído por ordem do imperador Teodósio I. Os escritos ali guardados foram possivelmente perdidos neste ato.

5. A possível destruição final pelos árabes (século VII)

Uma das teorias mais populares (embora menos comprovada) é que a biblioteca foi completamente destruída em 642 d.C., quando os árabes conquistaram Alexandria sob o comando de Amr ibn al-As. Diz-se que, ao consultar o califa Omar sobre o que fazer com os livros, a resposta foi: “Se eles dizem o mesmo que o Alcorão, são desnecessários. Se dizem o contrário, são heréticos.”

Embora essa versão seja famosa, muitos historiadores modernos a consideram apócrifa ou exagerada, surgida séculos depois.

Passo a passo para entender o desaparecimento da biblioteca

  1. Ascensão e apogeu: Fundação no século III a.C., auge no período helenístico.
  2. Primeiras perdas: Incêndio durante a guerra civil de César (48 a.C.).
  3. Declínio gradual: Falta de financiamento e apoio intelectual sob domínio romano.
  4. Conflitos internos: Combates em Alexandria no século III.
  5. Fanatismo religioso: Destruição do Serapeu e perseguições a intelectuais.
  6. Narrativas contraditórias: Registros escassos, teorias variadas, lacunas históricas.

Por que a Biblioteca de Alexandria ainda nos fascina?

A ideia de que houve um tempo em que o conhecimento de várias civilizações foi reunido num único lugar mexe com nossa imaginação. Livros perdidos, obras desaparecidas e teorias nunca comprovadas são o combustível de quem sonha com os mistérios da antiguidade.

Será que manuscritos de civilizações esquecidas poderiam ter mudado a forma como vemos o universo? Quantas descobertas foram feitas ali séculos antes de seu redescobrimento na era moderna?

A Biblioteca de Alexandria é, acima de tudo, um símbolo. Representa o auge da curiosidade humana, da sede por saber e da tentativa de registrar o mundo em palavras. Seu desaparecimento é um lembrete doloroso de como o conhecimento pode ser frágil diante do fogo, da intolerância e da guerra.

O que resta da biblioteca hoje?

Fisicamente, nada. Mas seu legado ecoa. Muitos estudiosos acreditam que parte de seu conteúdo sobreviveu por cópias feitas antes das tragédias. Algumas dessas obras foram preservadas nos mosteiros da Idade Média ou inspiraram textos renascentistas.

Mais do que um edifício, a Biblioteca de Alexandria tornou-se uma ideia imortal. Uma lembrança de que a busca pelo conhecimento pode ser eterna — e que deve sempre ser protegida.

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